Com ambientação no litoral paulista e atmosfera que transita entre o suspense investigativo e o fantástico, Baía dos Lagartos, de Wilson Roberto, é um thriller sobrenatural que mergulha o leitor em segredos, memórias e fenômenos inexplicáveis que atravessam décadas.

O autor constrói uma narrativa envolvente que mescla drama familiar, lendas locais e a eterna dúvida: até onde você iria para reencontrar alguém que ama?

O retorno que desperta o passado

A história gira em torno de Daniel, um universitário que volta à casa do avô durante as férias da faculdade. Esperando descanso e uma rotina tranquila, ele se depara com uma surpresa desconcertante: o avô contratou um detetive particular para investigar uma lenda antiga da região, algo que parece, à primeira vista, puro delírio. O que seria apenas uma história contada por pescadores toma uma dimensão cada vez mais sombria e intrigante.

Daniel se mantém cético, certo de que o detetive está tirando vantagem do avô, se aproveitando de memórias frágeis e de um passado que o próprio jovem nunca entendeu direito.

No entanto, à medida que os dias passam, e os relatos se tornam mais detalhados e estranhamente coerentes, ele começa a questionar suas próprias certezas.

O detetive e os ecos do inexplicável

A figura do detetive particular adiciona à trama o sabor do noir e da investigação clássica. No entanto, ao contrário dos clichês do gênero, o detetive aqui não está apenas interessado em cumprir um serviço.

Ele próprio tem um enigma a desvendar, algo que o liga pessoalmente àquela mesma região da baía e aos estranhos acontecimentos que vêm se repetindo ali por décadas.

Com uma abordagem meticulosa e uma postura que alterna entre o ceticismo profissional e o fascínio pelo sobrenatural, o detetive se torna uma peça-chave para que o leitor, junto com Daniel, comece a perceber que há mais entre o mar e o céu do que nossa lógica pode explicar.

Uma lenda que atravessa gerações

O que realmente dá profundidade ao livro é a forma como Wilson Roberto entrelaça passado e presente, realidade e mito.

A trama avança ao mesmo tempo em que retrocede, buscando pistas em acontecimentos do início do século XX, traçando uma linha tênue entre o que pode ser explicado e o que pertence ao campo das lendas, das crenças e do impossível.

A lenda em questão é assustadora e envolvente: e se existisse um duplo de você? Ou de alguém que amou? Como reagir diante da chance de ter de volta uma pessoa querida, ainda que com algo diferente, sutil e inquietante? O autor nos convida a refletir sobre até onde iríamos para reviver um sentimento, recuperar uma presença, enfrentar o inexplicável em nome do amor ou da obsessão.

Suspense atmosférico e escrita envolvente

A escrita de Wilson Roberto é acessível, mas carrega o cuidado de quem sabe manipular a tensão e construir cenários que nos envolvem.

O ritmo é bem dosado, alternando momentos de introspecção com revelações que mantêm o leitor curioso. A ambientação litorânea é um dos pontos altos do livro: a natureza misteriosa da baía, a névoa constante, os sons noturnos e os silêncios carregados contribuem para criar um suspense denso, que se sustenta até as últimas páginas.

Baía dos Lagartos é ideal para leitores que apreciam thrillers com um toque sobrenatural, onde o mistério se mistura com o psicológico e as emoções. Quem gosta de histórias com detetives, dilemas existenciais, segredos de família e perguntas sem respostas fáceis certamente vai se prender à trama.

Wilson Roberto entrega mais do que um suspense: oferece uma reflexão sobre o tempo, o luto, o apego e a tênue fronteira entre realidade e ilusão. Um livro que permanece com o leitor depois da última página, como as ondas que voltam sempre à mesma praia, carregando os ecos do que ainda não foi compreendido.

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