Fábio Martins: o poeta que encontrou na prosa um novo jeito de sentir o mundo

Nascido em Santos e criado em São Vicente, no litoral de São Paulo, Fábio Martins carrega na bagagem afetiva as memórias de duas geografias que o formaram: o mar e o interior.

Durante a infância, dividia seu tempo entre as ruas costeiras e as férias em Brodowski, cidade do interior paulista que visitava religiosamente com os pais. Entre esses dois mundos, o salgado das ondas e o calor do chão vermelho, ele começou a formar o olhar sensível que hoje traduz em palavras.

A escrita surgiu como válvula de escape para um adolescente tímido dos anos 1980, um garoto que preferia o silêncio da observação à algazarra das multidões.

Foi através da poesia que Fábio encontrou o caminho para dar vazão aos sentimentos e pensamentos que o habitavam, algo que ainda hoje é parte inseparável de sua rotina criativa. Desde então, escreve para entender o mundo, e a si mesmo.

Caminhos, mudanças e o encontro com o amor

Durante anos, Fábio percorreu diversos cantos do Brasil em busca de si mesmo, até que chegou a Belo Horizonte, onde descobriu não só um novo lar, mas também o amor, com quem se casou e teve uma filha. Foi na capital mineira que passou a ousar mais com a escrita, expandindo sua produção para além da poesia.

A experiência com os minicontos rendeu o livro Cantos e Contos de Beagá, uma obra que mistura lirismo, cotidiano e a observação delicada de quem enxerga poesia nas pequenas coisas.

Publicou também dois livros de poemas, além de participar de revistas eletrônicas e coletâneas literárias, consolidando sua presença no cenário da literatura contemporânea brasileira.

Paralelamente à escrita, Fábio atua como professor de Língua e Literatura no Colégio São Paulo Irmãs Angélicas, em BH. O contato diário com os alunos e com o ensino da palavra amplia ainda mais sua percepção do poder transformador da linguagem.

Uma escrita sensível, simples e marcada pela perda

A sensibilidade é talvez a marca mais clara na trajetória de Fábio como autor. Seu estilo transita entre o leve e o profundo, sempre com uma busca sincera pela simplicidade da linguagem, sem abrir mão da densidade emocional. Ele gosta de explorar os sentidos, as entrelinhas, e as possibilidades que a língua oferece para tocar o leitor com sutileza.

Segundo sua esposa, e leitora mais próxima , o tema mais recorrente em sua obra é a perda. Apesar de Fábio relutar um pouco em assumir essa temática como central, reconhece que ela aparece com frequência, seja nos poemas, seja na prosa.

Talvez porque, como todo bom poeta, ele saiba que a ausência também é uma forma de presença, e que escrever é, muitas vezes, uma tentativa de manter aquilo que já se foi.

Seu processo criativo também é particular. Ele costuma elaborar as histórias na mente por dias ou até semanas, ruminando palavras e imagens, até sentir que está pronto para sentar ao computador. E quando escreve, prefere a noite, envolto no silêncio, como se o mundo lá fora precisasse adormecer para que o seu interior pudesse falar.

Do verso ao romance: novas formas de dizer o indizível

Foi com o romance Teus lábios só não me disseram adeus que Fábio se lançou a um novo desafio: transformar a poesia da alma em narrativa longa. Embora seja seu primeiro romance publicado, a experiência foi tão gratificante que ele se sente, como gosta de dizer, “um pouco Mia Couto”, um poeta que escreve em prosa.

Para Fábio, o romance é apenas uma extensão da sua sensibilidade poética. Em vez de versos curtos, agora suas palavras ganham corpo em personagens, cenas e tramas, mas sempre carregando a mesma musicalidade, a mesma introspecção e a mesma atenção aos detalhes que caracterizam sua poesia.

Atualmente, trabalha em um novo projeto de romance, ainda em fase de pré-escrita. A história vai girar em torno de um tema igualmente sensível e pessoal: o retorno, essa ideia de voltar para lugares (ou sentimentos) que ficaram para trás, mas que nunca deixaram de habitar a memória.

Influências e referências

Fábio é um leitor apaixonado. Suas referências são diversas, mas há nomes que o marcaram profundamente: Paulo Leminski, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e Maiakóvski o acompanham na poesia; enquanto na prosa, autores como Fernando Sabino, Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Juan Carlos Onetti e Eduardo Galeano aparecem com frequência em sua estante. Entre esses nomes, ele transita com liberdade, buscando vozes que dialoguem com sua forma de ver e sentir o mundo.

Fábio Martins escreve com o coração aberto. Suas palavras vêm carregadas de memória, de afeto e de uma vontade genuína de transformar a vida em literatura.

Ele é, acima de tudo, um observador da existência, alguém que encontrou na escrita um jeito de permanecer inteiro, mesmo quando fala de perdas.

E talvez seja exatamente por isso que sua obra toca com tanta delicadeza: porque nasce da vivência, da escuta e do silêncio E porque, como ele mesmo parece saber, existir é também escrever-se continuamente.

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Mestrando em Comunicação pelo PPGCOM da UFPE. Amante da cultura pop, apaixonado por livros e adora escrever sobre temas diversos. Além disso, é um entusiasta de música, filmes e séries, sempre buscando explorar e compartilhar suas impressões sobre o mundo do entretenimento.

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