Conclave: um thriller político que supera expectativas
Conclave – filme indicado em oito categorias ao Oscar, incluindo Melhor Filme – é um daqueles filmes marcantes que brilha em diversos aspectos. O filme se passa nos bastidores da eleição de um novo papa depois que o pontífice morre. Com uma atmosfera tensa que permeia todo o filme, o telespectador fica instigado querendo saber como essa história irá se desenrolar.
Dirigido por Edward Berger, vencedor do Oscar por Nada de Novo no Front, que faz um trabalho extremamente minucioso e digno de vários prêmios, é baseado em um livro de ficção do autor Robert Harris, lançado em 2016.
Dessa forma, com várias intrigas e mistério, ‘Conclave’ se destaca pela história curiosa, afinal, a eleição de um novo papa é cercada de mistério, além de atuações espetaculares e uma fotografia exuberante.
Com um elenco de peso, o filme é protagonizado por Ralph Fiennes que dá vida ao Cardeal Thomas Lawrence, responsável pela organização do conclave, além dos atores Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini, que interpretam, respectivamente o Cardeal Bellini, Cardeal Tremblay e a Irmã Agnes.
Além desses personagens, há também o misterioso Cardeal Benítez (Carlos Diehz), da arquidiocese de Cabul, que nem mesmo Lawrence sabia de sua existência.
Com um roteiro afiado que abre discussões sobre os rumos da igreja católica, que conta com mais de 1.3 bilhão de seguidores, esse filme vai trazer uma grande reflexão sobre religião, poder e o embate entre conservadorismo e progressismo, que é o dilema que permeia todo o filme e abre uma discussão sobre mudanças históricas e necessárias na Igreja, que são motivos de embates na vida real.
Essas transformações ficcionais refletem na realidade com o Papa Francisco que realizou diversas modificações em seu papado, se adaptando em um mundo que está em constante mudança e precisa se adaptar a um ambiente mais moderno, justo e igualitário.
Mostrando diversas ideologias e pensamentos diferentes, o filme nos apresenta diversos personagens contrastantes em que cada um representa uma forma de ver o mundo. Seja por um lado mais progressista com o Cardeal Bellini ou o conservador Cardeal Tedesco, interpretado por Sergio Castellitto, há embates constantes com as duas visões de mundo.
Com um elenco composto em sua maioria por homens, Isabella Rossellini brilha como a Irmã Agnes. Mesmo aparecendo por menos de seis minutos na obra, a atuação dela é tão marcante que rendeu a atriz uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, e ela entrega uma performance estonteante e que merece reconhecimento.
A atuação de Ralph Fiennes como um cardeal cheio de dúvidas mas que tem como papel organizar e comandar o conclave, é simplesmente impecável. O ator consegue transmitir na medida certa as nuances do personagem e seus dilemas pessoais, sendo uma das melhores atuações do britânico.
Com um final surpreendente, e alvo de críticas dos católicos mais fervorosos, o filme provoca reflexões e discute sobre fé e mistério. Além disso, humaniza os religiosos, mostrando que somos todos seres humanos e que não há ninguém perfeito, todos cometemos falhas.
A Igreja Católica não tem só um papel religioso, mas também uma grande influência em questões sociais e políticas que impactam o mundo globalizado. Com isso, o filme busca discutir dilemas que vão além da religião e passam por questionamentos internos sobre estruturas de poder e como mudanças são necessárias para um mundo mais inclusivo.
‘Conclave’ é um filme grandioso que vai além do superficial e perpassa por diversas questões que ultrapassam o cinema e acabam refletindo no nosso dia a dia e em situações da vida que todos nós passamos. Um filme que deixa uma marca e se torna uma das grandes estreias do ano, abrindo discussões importantes e com grandes chances de ganhar algum Oscar.
O filme está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.