Esse livro fala sobre morte. Mas também sobre vida. Sobretudo sobre vida e como a morte nos afeta. Perder alguém querido não é fácil e lidar com isso é um processo longo e doloroso. E é sobre isso que fala Água Fresca para as Flores, que conta a história de Violette Touissant, uma mulher que trabalha como zeladora de um cemitério na região de Borgonha, França. Ela tem esse trabalho há 20 anos, e cuida do local e vende flores para quem quiser enfeitar o túmulo de seu ente querido. 

Ela leva uma vida aparentemente pacata e tranquila, apesar de lidar com tanta dor, Violette consegue viver de forma sensível e singela na sua casinha ao redor das lápides. Mas já no começo da história vemos que sua vida não é tão simples assim. Ela lidou desde mais nova com a dor do abandono, um relacionamento conturbado com o marido e muito sofrimento. A dor sempre acompanhou Violette, e por isso, ela escolheu a solidão. Aos poucos vamos entendemos seus motivos. 

Ao longo da história vamos conhecendo sua vida, suas dores, amores, seu passado, seus desejos. O livro intercala presente e passado e com diferentes pontos de vista, e com isso vemos que todo ser humano lida com sua própria batalha. Cada um de nós temos desafios, problemas e sofrimento. Ninguém toma uma decisão sem um motivo, tudo tem uma razão, o passado traz consequências.

Ao começar o livro, confesso que julguei alguns personagens, senti aversão e não entendia por que ele agia de determinada maneira, mas ao mostrar o ponto de vista desse personagem, entendi melhor. Pode não justificar suas ações, mas agora entendi o porquê dele agir dessa maneira.

O livro é essencialmente dramático, tendo uma forte carga emocional, mas também tem suspense e romance. Afinal, a vida é uma mistura de gêneros. E essa obra retrata muito bem a vida, essa coisa complexa e difícil. E por retratar a vida, ela também trata da morte, pois é algo que faz parte do âmago da existência. E esse livro é fiel a isso. Ele descreve perfeitamente a dor do luto e como perder alguém muda você. A morte assusta, dói. Dói demais. Mas você supera. Tudo passa e só ficam as lembranças, que duram para sempre.

É de se pensar que a história de uma zeladora de cemitério seria monótona, mas não é o que acontece com a vida de Violette. Ela nunca está realmente sozinha, pois sempre tem a companhia dos que também trabalham no local, aqueles que perderam alguém e estão enterrando seu ente querido ou estão visitando o túmulo de alguém que perdeu e procuram consolo e uma conversa para tentar amenizar a dor. Violette sempre está ali.

Acho que o que mais me encantou em Água Fresca para as Flores foi a surpresa. Sua beleza, singularidade e honesta.  Eu não esperava que iria me deparar com um dos melhores livros que já li na vida. É um belo retrato da vida. Apesar de ter sofrido tanto, Violette não desanima. Ela passou por muitas adversidades, mais do que a maioria, mas ela não perdeu a beleza da vida. A vontade de viver permaneceu nela, mesmo com tantos desafios, e sinceramente, não há nada mais belo do que alguém que consegue manter o apreço pela vida, mesmo ela se mostrando tão dolorosa. 

De maneira crua, o livro descreve bem o luto, o sofrimento e a vida. Com frases distintas (e que já me marcaram e pretendo levar sempre comigo). Esse livro não romantiza a dor de perder alguém, nem trata de forma superficial. Narra com perfeição. Acho que se você já perdeu alguém muito importante para você, esse livro vai fazer mais sentido e você entenderá melhor a ideia. Mas eu recomento esse livro para qualquer um, pois tem uma escrita envolvente e única. É um alento para alma e para o coração.