Resenha | O apátrida: a saga de um degredado no Novo Mundo – Júlio Moredo

O livro “O Apátrida: A Saga de um Degredado no Novo Mundo”, escrito por Júlio Moredo, é uma obra que se destaca pela sua combinação magistral de pesquisa histórica com narrativa ficcional.

Neste romance, o autor nos transporta para o final do século XV e início do século XVI, um período marcado por grandes navegações, descobertas e transformações sociopolíticas, com foco na figura enigmática de Cosme Pessoa Fernandes, o famoso Bacharel de Cananeia.

A história de Cosme Pessoa Fernandes começa na vila de Miranda, localizada em Trás-os-Montes, Portugal, em 1474. Sabe-se que ele também estudou na Universidade de Salamanca, na Espanha.

Apesar de sua educação, Cosme acaba sendo preso em Lisboa, onde exercia o cargo de ouvidor. A razão exata para sua prisão é um dos mistérios que permeia a narrativa, deixando o leitor curioso para saber mais sobre o que levou esse homem de boa formação a ser condenado ao degredo.

Após sua prisão, Cosme é mandado como degredado para a ilha de São Tomé e Príncipe, uma colônia portuguesa na África que servia como uma espécie de ilha-prisão.

A trama toma um rumo inesperado quando, em 1499, a esquadra de Bartolomeu Dias, sob as ordens do rei D. Manuel I, chega a São Tomé para buscar Cosme e levá-lo ao Novo Mundo. Este detalhe é particularmente intrigante, pois o Brasil, nesse momento, ainda não havia sido oficialmente “descoberto” pelos portugueses.

No entanto, Cosme é levado para as proximidades da linha de Tordesilhas, que dividia o mundo entre Portugal e Espanha, com a missão de marcar as terras que seriam de Portugal. Este episódio coloca Cosme em uma posição única na história, como um dos primeiros europeus a pisar em solo brasileiro, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral.

Pouco se sabe sobre os primeiros anos de Cosme no Brasil, e Moredo utiliza essa lacuna histórica para explorar a imaginação, criando uma narrativa rica em possibilidades.

O autor preenche essas lacunas com uma narrativa envolvente que especula sobre como Cosme teria interagido com os povos indígenas, os desafios que enfrentou e como ele contribuiu para as primeiras transformações sociais e políticas na costa brasileira.

Cosme é apresentado como um personagem que oscila entre a figura de um homem culto e erudito e a de um sobrevivente em uma terra estrangeira.

A figura de Cosme Pessoa Fernandes, apesar de sua importância, foi historicamente negligenciada, algo que Júlio Moredo procura corrigir com este romance. Nos relatos históricos, Cosme ressurge apenas em 1531, nos documentos do escrivão Pero Lopes, durante a expedição de Martim Afonso de Sousa.

Nesse período, Cosme já estava estabelecido na região de Cananeia, no litoral sul do Brasil, onde colaborou com a fundação da vila de São Vicente e participou das primeiras bandeiras – expedições que desbravaram o interior do Brasil.

É notável como o autor consegue dar vida a um personagem tão enigmático. Cosme é retratado como um degredado que foi forçado a viver em um lugar remoto, e também como uma importante figura histórica que se adaptou, influenciou e participou ativamente das mudanças que ocorreram no Brasil durante os primeiros anos da colonização.

Júlio Moredo demonstra um talento notável para recriar a atmosfera do século XVI. A ambientação é detalhada com uma riqueza que transporta o leitor para as paisagens de Portugal, África e, finalmente, o Brasil, ainda um território inexplorado e cheio de mistérios.

A escolha do autor em utilizar um português arcaico, quase poético, é um dos grandes méritos da obra, proporcionando uma imersão ainda maior na época retratada. Apesar do uso de uma linguagem mais rebuscada, a leitura é fluida e acessível, mantendo o leitor cativado do início ao fim.

A trama de “O Apátrida” é construída de forma que cada capítulo revela novas faces da vida de Cosme, misturando fatos históricos com ficção de maneira harmoniosa.

O ritmo da narrativa é dinâmico, com surpresas a cada página, fazendo com que seja difícil parar de ler. Moredo consegue equilibrar o rigor histórico com uma imaginação fértil, criando uma obra que oferece uma visão profunda e instigante sobre um período crucial da história brasileira.

A leitura de “O Apátrida: A Saga de um Degredado no Novo Mundo” é uma experiência memorável. Júlio Moredo consegue trazer à luz a vida de Cosme Pessoa Fernandes, uma figura histórica de grande importância, mas que por muito tempo foi esquecida.

Através de uma narrativa envolvente e bem fundamentada, o autor nos oferece uma janela para o passado, mostrando como um homem desterrado da sua terra natal teve um papel significativo nos primeiros passos da colonização do Brasil.

Recomendo “O Apátrida” para os amantes de romances históricos e para todos que têm interesse em entender melhor as complexidades do período de descobrimento e colonização do Brasil.

Trata-se de uma obra que mistura aventura, história, e um profundo respeito pela memória de um personagem que, embora esquecido pelos livros de história, encontra nas páginas de Júlio Moredo o reconhecimento que merece.

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Mestrando em Comunicação pelo PPGCOM da UFPE. Amante da cultura pop, apaixonado por livros e adora escrever sobre temas diversos. Além disso, é um entusiasta de música, filmes e séries, sempre buscando explorar e compartilhar suas impressões sobre o mundo do entretenimento.

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