Pobres Criaturas é um filme que vem causando diversas sensações e sentimentos mundo afora ao contar a história de Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher bem diferente, afinal, depois de tentar suicídio enquanto estava grávida, Godwin Baxter (Willem Dafoe) resolveu salvar ela colocando o cérebro do feto nela. Então, apesar de ter um corpo de uma mulher, o cérebro dela não corresponde a essa idade, desenvolvendo aos poucos, pois ela possui um cérebro de criança.

Bella vive confinada por God, pois ele tem medo dela viver livre, o que é uma analogia bastante interessante acerca da liberdade da mulher. Muitos homens têm medo de uma mulher livre, vivemos há tanto tempo nas amarras do patriarcado que ao se deparar com uma mulher cheia de liberdade, aterrorizamos os homens que foram acostumados a controlar as mulheres e muitos não aceitam ver uma mulher que faz o que quer. Bella é uma dessas mulheres e vai incomodar muitos homens com seu jeito único.

Assim, ela conhece um advogado chamado Duncan (Mark Ruffalo), que oferece a ela uma viagem para a Europa e Bella fica bastante animada pois acha que assim ficará livre e o que ela mais quer é desbravar novos horizontes. Mas não é isso que acontece. A vida com Duncan é mais uma prisão para a personagem.

Devido ao desenvolvimento contínuo de seu cérebro, Bella não está sujeita às amarras que restringem os adultos. Assim, ela age de acordo com seus desejos e busca seu próprio bem-estar. Essa atitude, no entanto, gera apreensão nos outros, especialmente quando se trata de uma mulher. Afinal, na sociedade em que vivemos, os homens frequentemente encontram desculpas e justificativas para suas ações, enquanto as mulheres são alvo de julgamentos por fazerem o mesmo..

O diretor grego, Yorgos Lanthimos, soube captar bem a essência do que é considerado normal ou não, e como essa conjuntura muda dependendo do gênero. Ao narrar a jornada de autodescoberta de Bella, podemos ver uma mulher se formando e seu desejo de existir livremente.

E é claro que esse processo não será nada fácil. Desde o começo do filme vemos homens tentando controlar a personagem principal, seja God, Duncan ou Alfie, o marido controlador que a personagem tinha antes de renascer como Bella. Vários homens não aceitam a maneira que ela vive sem se deixar ser controlada ou viver de acordo com o que se espera de uma mulher na sociedade.

Bella Baxter tem um desejo enorme de viver, de conhecer o mundo e adquirir conhecimento. É mágico ver ela descobrindo o planeta em que vivemos e não perdendo sua essência. Se no começo do filme vemos uma mulher desprovida de inteligência, é gratificante ver a mulher que ela se tornou no fim da história. Com uma atuação magnífica de Emma Stone, fica fácil se deixar envolver na trama e se ver imerso naquele mundo, e junto com a curiosa personagem, ficamos encantado com a visão de mundo que Bella tem.

O filme conta uma história dividida em cinco capítulos que mostram o desenvolvimento de Bella e como ela vai amadurecendo ao longo de sua trajetória. Ela tenta achar um sentido em sua vida, questionando o mundo a sua volta. Há muita sinceridade e choque ao se deparar com um ambiente tão cruel que é o planeta em que vivemos.

É encantador ver a visão de Bella com o mundo, um olhar inocente diante de tantas dificuldades que a vida traz. Porém, gradualmente, esse olhar passa por uma transformação, e ela amadurece, adotando uma mentalidade mais adulta.

Sendo uma crítica perspicaz ao mundo em que vivemos e principalmente à sociedade patriarcal e machista, Pobres Criaturas já nasce como um clássico contemporâneo com um roteiro elaborado, direção sublime, atuações memoráveis e um visual de tirar o fôlego. E não surpreende ninguém com suas onze indicações ao Oscar.