Um fantasma em dó menor, da autora Anna Palmer, é uma obra intrigante na qual a música ecoa além da vida

Existem histórias que nos envolvem por sua beleza, outras por sua intensidade emocional. Um fantasma em dó menor, de Anna Palmer, consegue unir ambas em uma narrativa que mistura amizade, obsessão, mistério e uma pitada sobrenatural. Um romance que soa como uma melodia antiga que, mesmo esquecida por muitos, ainda vibra em quem teve coragem de ouvi-la com atenção.

A trama gira em torno de Brigitte e Amábile, duas adolescentes que, apesar de estilos de vida bastante distintos, desenvolvem uma forte amizade a partir de um gosto em comum: a banda fictícia dos anos 90, The Rebels.

O grupo, que viveu seu auge décadas atrás, foi marcado por um fim trágico, o vocalista icônico, Max, foi acusado de matar sua amante e cometer suicídio em seguida. Mas como toda grande lenda do rock, a história nunca pareceu completamente resolvida.

O reencontro com o passado

O enredo começa a se intensificar quando Brigitte encontra uma caixa com pertences de Max, como se o destino a tivesse conduzido até ela. Não é apenas uma relíquia: é um portal para o passado, um acervo de pistas que podem reescrever a história do vocalista e, consequentemente, de tudo o que as duas amigas acreditavam sobre a banda.

O conteúdo dessa caixa é o motor que move a narrativa e empurra as protagonistas para uma investigação intensa, que beira o perigo.

O mais interessante aqui é que Anna Palmer brinca com a linha entre realidade e sobrenatural: o “fantasma” do título não é apenas uma metáfora.

Há sim um componente espiritual na história, mas ele nunca se sobrepõe ao tom emocional e investigativo do romance. Ao contrário, serve como uma camada simbólica que questiona o peso das memórias, dos traumas, das culpas e das versões não contadas dos acontecimentos.

Uma amizade que desafia o tempo

A relação entre Brigitte e Amábile é o verdadeiro coração do livro. Palmer constrói esse vínculo com profundidade, mostrando como a amizade pode se tornar um ponto de ancoragem mesmo em meio ao caos.

Conforme mergulham no passado de Max, também precisam lidar com seus próprios fantasmas: inseguranças, conflitos familiares, amores mal resolvidos.

A autora é habilidosa em equilibrar esses elementos pessoais com a investigação central. Em nenhum momento o mistério ofusca as emoções.

Muito pelo contrário, as descobertas servem para revelar mais sobre quem Brigitte e Amábile são, e quem estão se tornando.

A escrita é sensível, ágil e pontuada por referências musicais que resgatam a energia rebelde dos anos 90 e dão o tom certo à narrativa.

Uma lenda (quase) esquecida

Max, o vocalista da The Rebels, é uma presença constante, mesmo sem estar vivo. Sua história é narrada por fragmentos, e é impressionante como a autora consegue dar corpo e alma a um personagem através da ausência.

Aos poucos, o leitor entende que o ídolo carismático também era um homem complexo, contraditório e cercado de escolhas difíceis. A pergunta que paira durante toda a leitura é: até onde devemos ir em busca da verdade?

O que Um fantasma em dó menor faz com maestria é mostrar que algumas histórias talvez tenham sido enterradas por um motivo. E ainda assim, somos fascinados por desenterrá-las.

O livro não oferece respostas fáceis, mas levanta questionamentos importantes sobre a construção da memória, a idealização de figuras públicas, a responsabilidade sobre a verdade e os efeitos do passado no presente.

Uma leitura para fãs de música, mistério e emoção

Este é o tipo de livro que agrada quem busca uma leitura envolvente, emocionalmente rica e com um mistério que vai além do convencional. Não se trata apenas de descobrir o que aconteceu com Max, mas sim de entender por que ainda importa. De entender o quanto o passado molda quem somos e como a arte pode se tornar um elo entre mundos: o dos vivos e o dos que já se foram.

Anna Palmer entrega um romance jovem com alma adulta, capaz de agradar fãs de histórias de amizade, música, drama psicológico e um toque sobrenatural. Sua narrativa é fluida, sua construção de personagens é cuidadosa, e a atmosfera melancólica que permeia a trama é irresistível.

Um fantasma em dó menor é uma ode às conexões profundas, aos ídolos caídos e às verdades que insistem em não permanecer enterradas. Um livro para ser lido com fones de ouvido, coração aberto e olhos atentos ao que há de mais humano nos nossos fantasmas.

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Jornalista formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Mestrando em Comunicação pelo PPGCOM da UFPE. Amante da cultura pop, apaixonado por livros e adora escrever sobre temas diversos. Além disso, é um entusiasta de música, filmes e séries, sempre buscando explorar e compartilhar suas impressões sobre o mundo do entretenimento.

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