Valsa com o diabo, de Guilherme Massau, é uma obra profundamente reflexiva e visceral
Valsa com o Diabo, de Guilherme Massau, é uma coletânea de cinco contos que trafegam por terrenos inquietantes, onde o assombro psicológico e os limites da sanidade se entrelaçam em um fascinante e melancólico jogo de sombras.
A obra explora o que acontece com aqueles que, por escolhas ou circunstâncias, se aproximam demais do abismo — e acabam encontrando nele o reflexo de seus medos e também uma espécie de habitação macabra.
Através de uma prosa visceral e profundamente introspectiva, Massau constrói narrativas que desnudam as angústias humanas em suas diversas formas: o trauma infantil, a deterioração mental na velhice, o peso das escolhas erradas e a luta para escapar do caos interior.
Os contos funcionam quase como sessões de terapia conduzidas em meio ao caos, revelando como cada dissabor e agonia vão sedimentando monstros que habitam o íntimo de seus personagens.
Um dos pontos altos do livro é sua capacidade de usar a arte — como expressão, fuga e enfrentamento — para ilustrar os tormentos humanos.
As personagens recorrem à música, à escrita, aos rituais, na tentativa de encontrar alívio para o peso que carregam. Para quem já enfrentou batalhas internas, Valsa com o Diabo oferece um espelho perturbador, mas também um consolo silencioso: há beleza no ato de transformar dor em criação.
Os cinco contos que compõem a obra são breves, mas densos, e cada um deles é uma janela para uma dor distinta. Em “Helena”, por exemplo, a história de uma criança que se acostuma à morte desenha um retrato inquietante da resiliência na infância e de como a inocência pode ser deformada pelas circunstâncias.
Já em “A Origem dos Monstros”, a narrativa explora o terreno nebuloso entre a imaginação infantil e as experiências traumáticas, sugerindo que o real e o fictício se fundem no coração de quem sofre.
As demais histórias, embora distintas em trama, compartilham um fio condutor: a luta para encontrar sentido, ou pelo menos uma saída, no meio do caos. Idosos perdidos nas brumas de sua memória, indivíduos que dançam à beira do desespero, e até quem encontra alívio temporário no próprio sofrimento.
Cada conto narra e vivencia, com o leitor, a confusão e a dor dos personagens, provocando uma empatia dolorosa.
O autor conduz o leitor a um limbo emocional, onde os personagens refletem não apenas suas lutas internas, mas também as nossas.
Quem nunca olhou para o espelho e encontrou um reflexo distorcido, misturado aos próprios monstros guardados dentro de potes herméticos na tentativa de esquecê-los? Esse limbo é, ao mesmo tempo, familiar e aterrorizante, como se cada conto fosse uma dança em um salão escuro, onde as notas da música ecoam tanto esperança quanto desespero.
Essa não é uma leitura leve ou reconfortante. É um livro para aqueles que já vislumbraram o vale escuro, que temeram cair nele, mas que, de alguma forma, encontraram força para continuar. Massau dialoga diretamente com os leitores que conhecem a sensação de carregar um peso invisível ou de adaptar-se ao caos ao seu redor.
Ao final, Valsa com o Diabo não oferece respostas fáceis ou resoluções confortáveis. É uma obra que convida à reflexão, ao enfrentamento dos próprios medos e ao reconhecimento de que, às vezes, a arte é a única corda que nos impede de cair de vez no abismo.
Com sua prosa afiada e poética, Massau entrega um livro que é tanto um espelho das angústias humanas quanto uma homenagem à capacidade da arte de dar forma e sentido ao indizível. Para quem se permite dançar com os próprios demônios, Valsa com o Diabo é uma experiência inesquecível.
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