“Vocabulário de Memórias Ausentes”, de Sergio Geia, é uma reflexão sensível sobre a fragilidade humana
Sergio Geia nos oferece, em Vocabulário de Memórias Ausentes, uma obra profundamente sensível e envolvente, que, embora trate da brutalidade inerente à existência humana, o faz com uma delicadeza impressionante. Através de onze contos, Geia guia o leitor por uma reflexão sobre a fragilidade do corpo e da mente, sem nunca perder de vista a lucidez diante das fatalidades da vida. Trata-se de um livro que explora, com sutileza e intimidade, a condição humana em uma de suas fases mais vulneráveis: a velhice.
É importante destacar que a abordagem da velhice feita pelo autor foge dos clichês convencionais. Geia não se debruça sobre o processo de envelhecimento, mas sobre o estado da velhice em si.
O que vemos é uma observação cuidadosa das limitações e angústias que acompanham essa etapa da vida e da lucidez cortante que muitas vezes surge quando o corpo e a mente começam a fraquejar. Há um senso de aceitação permeando os contos, ainda que o desconforto físico e mental nunca esteja distante.
Essa dualidade – a fragilidade do corpo versus a lucidez da mente – é talvez um dos elementos mais fascinantes da obra. Nos contos de Vocabulário de Memórias Ausentes, o leitor encontra personagens que se confrontam com as limitações de seus corpos envelhecidos, mas que não perdem sua capacidade de pensar, de refletir e de sentir com intensidade. Essa tensão entre a decadência física e a clareza mental é explorada com uma precisão que toca fundo.
Os contos nos levam a uma jornada pela vida de diferentes personagens, cada um com sua própria experiência da velhice. E, apesar de serem histórias distintas, há uma sensação de unidade entre elas. O fio condutor é a percepção de que, no final das contas, todos estamos à mercê das mesmas fatalidades.
A fragilidade do corpo é algo que nos une, e Geia faz questão de nos lembrar disso de uma maneira que não é melancólica, mas sim profundamente humana.
Geia usa sua escrita para construir cenários que nos envolvem completamente, criando uma atmosfera que, mesmo em meio à brutalidade da vida, é ao mesmo tempo poética e sutil. Sua prosa é envolvente e cativante, fazendo com que o leitor seja puxado para dentro das histórias de forma natural.
Não há exageros ou dramaticidade excessiva. Pelo contrário, a força da escrita de Sergio Geia está justamente na simplicidade e na forma direta com que ele aborda temas tão complexos.
A leitura dos contos de Vocabulário de Memórias Ausentes é uma experiência que nos faz refletir sobre nossa própria vulnerabilidade, sobre a inevitabilidade da passagem do tempo e sobre a forma como lidamos com a finitude da vida.
Ao longo das páginas, o autor nos convida a observar a velhice com um olhar atento e compassivo. E essa observação não se limita à fragilidade física, mas também ao que resta de força – seja ela mental ou emocional – mesmo nos momentos mais difíceis.
Um dos pontos mais interessantes da obra é que Geia não oferece respostas fáceis. Seus contos não são moralistas nem conclusivos. Eles deixam espaço para o leitor tirar suas próprias conclusões, refletir sobre a condição humana e sobre como lidamos com a mortalidade. Ao final de cada conto, há uma sensação de que o autor conseguiu captar algo essencial da vida, algo que muitas vezes passa despercebido no ritmo acelerado do cotidiano.
A experiência de leitura é fluida, e mesmo que o tema central seja a velhice, há uma universalidade nas histórias que faz com que qualquer leitor, independentemente da idade, consiga se identificar com os personagens e suas reflexões. Há uma beleza serena nas palavras de Geia, que captura a complexidade das emoções humanas de maneira simples, sem nunca cair no sentimentalismo.
Dizer que a escrita de Sergio Geia é cativante e envolvente é, sem dúvida, um eufemismo. É praticamente impossível não se conectar emocionalmente com as histórias que ele apresenta. A capacidade do autor de nos transportar para o interior da vida de seus personagens é notável, e ao final de cada conto, ficamos com a sensação de que aprendemos algo novo sobre nós mesmos e sobre a vida em geral.
No geral, Vocabulário de Memórias Ausentes é uma obra que nos convida a refletir sobre a condição humana de forma profunda e tocante. Sergio Geia demonstra, com maestria, sua habilidade em criar narrativas que exploram a fragilidade e a força, o corpo e a mente, o medo e a aceitação.
Uma leitura indispensável para aqueles que apreciam histórias que nos desafiam a pensar sobre nossa própria mortalidade, sem perder de vista a beleza que existe em cada momento da vida.
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