Resenha: O Morro dos Ventos Uivantes
Até onde você iria por amor, vingança ou dinheiro? Essa é a premissa explorada em O Morro dos Ventos Uivantes, uma história que se desenrola em dois tempos – presente e passado – e gira em torno de Heathcliff, um homem que teve uma infância difícil e cresceu desenvolvendo um caráter terrível.
O livro é narrado por Nelly Dean, a governanta da casa, para o Sr. Lockwood, um inquilino que alugou uma propriedade de Heathcliff. Apesar de contar a história a partir de sua perspectiva, Nelly não é o foco principal da narrativa. Ao ser questionada sobre a vida do misterioso e rico homem, ela começa a relatar a história desde o início, quando Heathcliff foi acolhido pela família Earnshaw. A partir daí, a trama se desenrola em duas linhas temporais, presente e passado, revelando segredos obscuros e relacionamentos tumultuosos.
Quando Heathcliff chegou à casa dos Earnshaw, era apenas uma criança abandonada. Lá, ele conheceu Catherine, a filha do homem que o acolheu como filho. Seu novo pai fez de tudo por ele, despertando a inveja de seus próprios filhos, especialmente de Hindley. Além disso, Heathcliff era mal visto pelos moradores do vilarejo, que o tratavam com preconceito. A autora destaca que ele não é branco, embora não deixe claro sua raça, um fator que contribuiu imensamente para seu tratamento hostil.
Heathcliff, por sua vez, cresceu amargurado depois de sofrer nas mãos de seu irmão adotivo e agravou ainda mais com a morte de seu pai. Embora Catherine tenha se aproximado dele na fase adulta, Hindley fez de sua vida um verdadeiro inferno.
Ao crescer, o jovem abandonado se torna um homem amargurado e se apaixona por Catherine. No entanto, as circunstâncias impedem que eles fiquem juntos.
O livro retrata uma história de obsessão, ódio, amor e crueldade, em que todos os personagens têm seus defeitos expostos de forma brilhante pela autora Emily Brontë. Nenhum deles é verdadeiramente decente, criando uma atmosfera sombria e intensa. Vale ressaltar que este foi o único livro escrito por Emily Brontë, que faleceu pouco tempo após a sua publicação.
O livro traz uma crítica à sociedade ao abordar como nossa criação e experiências moldam nossa personalidade. Heathcliff é cruel, de fato, mas sua maldade tem uma justificativa. Abandonado pelos pais biológicos, vive em um ambiente hostil e é impedido de estar com o amor de sua vida. Tudo isso acaba transformando esse personagem em uma criatura amarga e vingativa, destruindo todos que cruzam seu caminho.
Consumido por um amor voraz por Catherine, ela é a única que parece despertar um pouco de bondade nele. No entanto, esse amor se torna obsessivo para Heathcliff e acaba se tornando impossível de ser concretizado devido ao seu passado desconhecido e por não ser um bom pretendente para ela.
Isso faz com que Heathcliff se torne ainda mais obstinado a ter Catherine só para si, mesmo depois dela casar com Edgar Linton. Com a história sob o olhar da governanta, começamos a entender o momento atual, quando Lockwood chega a cidade.
“O Morro dos Ventos Uivantes” apresenta um romance trágico e perturbador, sem personagens que possam ser considerados mocinhos. Embora seja difícil se identificar com algum deles e desejar um final feliz, a história nos faz refletir sobre os limites da maldade humana quando uma pessoa é submetida a constantes maus-tratos. A trajetória de Heathcliff, que sofreu desde cedo e viveu à margem da sociedade, nos leva a questionar os motivos que o levaram a agir com tanta crueldade, embora isso não justifique suas atitudes.
O romance teve uma importância muito grande em diversas obras, na Era Vitoriana (época em que o livro foi escrito) existia muito a dicotomia entre bem e mal e famílias 100% felizes nos livros. Depois do lançamento do livro, essas normas começaram a serem questionadas e as histórias se tornaram mais realistas.
A obra exerceu outras influências como a existência de personagens femininas fortes, famílias disfuncionais, narrativas subjetivas, personagens complexos e problemáticos e um final inconclusivo. Tudo isso mudou completamente a forma de contar histórias no mundo.
Emily Brontë nos presenteia com uma obra que explora profundamente o aspecto psicológico, demonstrando como o ambiente molda o indivíduo. Se você é fã de romances góticos, este livro é imperdível. Mesmo tendo sido publicado há mais de 150 anos, sua relevância permanece inabalável, sendo vendido em grande escala em todo o mundo.
Essa resenha foi feita em parceria com Ytalo Cantanhede, do Instagram @esquadrinhandoleituras. Aproveite para adquirir este livro!
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